quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A ginástica zen



Alice Granato
 
Claudio Rossi
Aula em São Paulo: suor e relax
A velha ioga, quem diria, está voltando à moda. As ginásticas de que o brasileiro mais gosta atualmente são aquelas que imitam lutas marciais, técnicas de circo ou movimentos de dança – mas já não há academia de primeira linha que deixe de oferecer sessões de ioga, sobretudo da versão energética chamada power ioga. Nos Estados Unidos, onde nascem os modismos que depois causam furor por aqui, tornou-se uma nova febre entre as celebridades. O roqueiro Sting e a atriz Gwyneth Paltrow foram fotografados em posição de lótus. A popstar Madonna não apenas representa uma professora de ioga no filme Sobrou pra Você, com estréia no Brasil prevista para o próximo mês, como a pratica na vida real. O que está atraindo toda essa gente é a promessa de cuidar não só do corpo mas também aliviar a cabeça. Isso explica por que as salas de aula estão cheias de gente que deixou a gravata pendurada no vestiário. "Eu comecei de mansinho e hoje faço três vezes por semana", diz Aldo Leone Filho, vice-presidente da agência de viagens Agaxtur. "É a única hora do dia em que consigo tirar o celular do bolso. A ioga está me deixando muito mais tranqüilo."


A mudança de público é impressionante. A ioga tinha perdido o pé quando os hippies e bichos-grilos sumiram do mapa, no final da década de 70. A versão tradicional, que chegou aos países ocidentais nos últimos anos do século XIX e pretendia combinar meditação profunda com técnicas de controle de "forças vitais", estava mais para religião que para malhação. Agora é diferente. A power ioga tem movimentos vigorosos e atléticos. A ênfase também mudou. O objetivo não é mais alcançar a iluminação mística, mas combater o stress do dia-a-dia. Mesmo assim, a mística austera original sobreviveu aos novos tempos. É preciso concentração excepcional para conseguir o equilíbrio necessário para certos malabarismos, como ficar de cabeça para baixo ou colocar o pé atrás da nuca. Normalmente, as sessões de ioga acontecem com luz e som bem suaves ou em espaços ao ar livre. Muitas são acompanhadas pela fumaça de incenso, deferência às raízes milenares no hinduísmo. O ambiente em que se pratica ioga é bem mais relaxante que o da aeróbica.
"Muita gente me procura e conta que está com ansiedade e dificuldade para dormir", conta a professora Catherine Lobos. "Bastam algumas aulas para as pessoas começarem a se sentir melhor." Ela ensina em três academias em São Paulo e ainda atende clientes particulares que a contratam como uma espécie de personal trainer de ioga. A atriz Daniela Camargo, uma de suas alunas, está encantada com o resultado das primeiras aulas. "Você aprende a respirar em outro ritmo, trabalha o corpo e a cabeça ao mesmo tempo", elogia. Há quem esteja usando a ioga também como auxílio para doenças nervosas. É o que faz a psicóloga paulistana Suzana Castro. "Estou encaminhando alguns pacientes com casos de depressão e ansiedade para conciliar a terapia com a ioga", diz. "Com muitos deles consegui evitar o uso de medicamentos e tive um resultado bastante bom."
O renascimento da ioga é percebido nas principais cidades brasileiras, mas é bem mais intenso em Florianópolis. Isso deve ser atribuído a Marco Schultz, que passou oito anos aprimorando a técnica na Califórnia, voltou há seis e agora tem mais de 200 alunos na capital catarinense. Ele montou um estúdio em uma academia de ginástica e se especializou no treinamento de atletas, como o bicampeão mundial de surfe Teco Padaratz. "Não existe mais aquela história de que quem faz ioga é zen, esotérico", ensina Schultz. "Ao contrário, as pessoas estão praticando porque perceberam que é um tipo de ginástica que todo mundo pode fazer."

 http://veja.abril.com.br/260400/p_096.html

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