segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

“Mico Preto”: A anarquia no horário das 19h

O ano era 1990. O horário das 19h vinha de uma sequência de três sucessos: “Bebê a Bordo”, “Que Rei Sou Eu?” e “Top Model”. O então diretor da Central Globo de Produção, Daniel Filho, convoca os autores Euclydes Marinho, Leonor Basséres e Marcílio Moraes para uma reunião e lhes apresenta uma folha de papel com um argumento, escrito por uma moça chamada Dulce Bressane. Ele pede que os três construam a partir daí uma novela e aquela página sem sentido se transforma numa das novelas mais anárquicas da Rede Globo: “Mico Preto”.

A trama da novela, que se chamaria inicialmente “Quem tirou mamãe do armário”, começa com um engano. Por causa de um acidente de trânsito em que amassou o velho carro de um funcionário público morador de Nova Iguaçu, uma empresária milionária fica com os documentos e o endereço do rapaz para mais tarde lhe pagar os prejuízos. Nesta mesma época, ela tinha em seu poder um modelo de procuração que daria plenos poderes ao seu advogado de confiança. Entretanto, sua secretária, sem querer, troca as bolas, ou melhor, os dados e preenche a procuração em nome do desconhecido. Dias depois, a milionária matriarca que namora o jovem Astor (Marcos Frota), some misteriosamente. Alguém tem de assumir a direção de seu conglomerado de empresas, no qual seus filhos ocupam cargos de chefia. Mas quem?
Para desespero do Vice-Presidente, Fred (José Wilker), do Diretor de Relações Públicas, Zé Luís (Miguel Falabella), e do Diretor Comercial Adolfo (Tato Gabus Mendes), nenhum deles poderá ocupar o lugar da mãe na Menezes Garcia Eletrônica. O procurador legal de Dona Áurea (Márcia Real) passa a ser Firmino (Luís Gustavo), homem simples, honesto e sem ambições. Ao saber que, por força de um documento registrado em cartório, deve assumir a dianteira dos negócios de um grande grupo econômico, ele não foge da responsabilidade. O poder que Firmino passa a ter nas mãos e sua capacidade de não se deixar corromper são o recheio da história.
Firmino continua morando em Nova Iguaçu e ganha de volta a namorada, Sarita (Glória Pires), que quase o trocou por um casamento de aparências com o Deputado Zé Maria (Marcelo Picchi), candidato ao Governo do Estado. José Maria mantém uma relação amorosa com Zé Luiz, mas para ganhar as eleições, faz de tudo para que ninguém saiba de sua vida particular. Sarita engana o ingênuo namorado sobre seu trabalho, que ele pensa ser o de acompanhante de uma velhinha doente. Ela, na realidade, trabalha como dançarina em uma boate. Como não quer continuar levando essa vida por muito tempo, vive desmanchando o namoro com Firmino, que não tem o menor futuro como funcionário público. Ela só o aceita de volta quando ele começa sua ascensão.
O advogado amigo de Áurea que deveria ser seu procurador é Honório (Mauro Mendonça), um antigo funcionário da firma. Ele é casado com a divertida Neném (Eva Wilma), com quem tem três filhos: Cláudia (Louise Cardoso), Marisa (Débora Evelyn) e Robin (Marcelo Serrado). Os três são apaixonados por pessoas da família de Áurea: Cláudia por Fred, Marisa por Zé Luís e Robin pela filha de Fred, Katherine (Daniela Camargo). Honório foi demitido da empresa graças às armações do primogênito dos Menezes Garcia e sofre ao perceber que sua filha está envolvida pelo vilão.
O ambicioso e sedutor Fred mesmo sendo o vice-presidente das empresas de sua mãe, ambiciona mais, principalmente pela preferência de Áurea por Adolfo, o que o deixa louco de inveja. Por vingança, envolve-se com Cláudia, apesar de acabar gostando da jovem. Em determinado momento da trama, Áurea reaparece e revela o motivo de seu sumiço: ela se submetera a uma experiência de rejuvenescimento e ficara em coma devido a um choque alérgico. Temendo que Áurea atrapalhe seus planos de chegar à presidência da empresa, o mau-caráter resolve interditar a própria mãe e consegue colocá-la em uma clínica psiquiátrica.

A essa altura Fred mantém uma caso com Sarita, que além de estar morando com o noivo na casa da milionária, ainda leva a mãe, a pilantra Dona Heroltildes (Geórgia Gomide), para morar com eles. A vida delas se complica quando Firmino e Cláudia descobrem a traição e decidem terminar seus casamentos. Os dois acabam se aproximando e se apaixonam perdidamente. No entanto, a felicidade do casal é atrapalhada quando Sarita anuncia que está grávida de Firmino. Ela usa todos os artifícios possíveis para que o ex-marido a aceite de volta, e Cláudia, perturbada com a constante presença de Sarita, acaba rompendo o namoro com Firmino.
A história dá outra sacudida quando surge o irmão gêmeo de Zé Luiz. Foragido durante muitos anos, depois de ter aplicado um golpe na própria família, Arnaldo volta disfarçado de Sr. Guimarães, quando descobre que a mãe desapareceu. Ele se torna visinho de D. Cristina (Yara Cortes), mãe de Firmino, visando se aproximar do procurador e reaver a fortuna. No decorrer da novela, depois de divertidas cenas em que é confundido com seu irmão, que chega a ser preso em seu lugar, Arnaldo se torna uma figura decisiva na luta de Áurea em recuperar seu lugar. Ainda com a ajuda de Cláudia e Firmino, ela consegue escapar das tramóias do filho, que morre assassinado numa tentativa de fuga depois de seqüestrar o filho do rival e da amante e assumir o assassinato de Heroltildes e Caroço (Elias Gleizer), seus cúmplices. Arnaldo foge com Marisa, apaixonada inicialmente por Zé Maria, e Sarita termina sozinha, com o filho. Firmino e Cláudia terminam juntos e na ultima cena da novela os dois aparecem empurrando seu carro velho, que quebrou novamente.

“Mico Preto” foi assumidamente uma novela sátira. Sua inspiração no universo de Pedro Almodóvar, que explodia para um mundo naquele ano, com filmes como “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” e “Átame!” e a presença de Glória Pires, em seu retorno à TV depois do sucesso em “Vale Tudo”, vivendo uma Maria de Fátima mais cômica e mais descarada, não foram o suficiente para atrair a atenção do público. A história se esgotou no primeiro mês de transmissão e a Globo começava a sentir os efeitos do sucesso de Pantanal. O trio de autores não teve química e Walther Negrão foi convocado para tentar dar rumo à trama. Tarde demais! Contudo, grande parte do elenco se divertida gravando a novela mais alucinada da televisão brasileira e assim como o público, não entendia os rumos da trama. “Aquela novela era muito doida. A gente ria o dia inteiro (…) Daqui alguns anos, aquilo vai ser mostrado como um surto, um grupo de atores que enlouqueceram durante a novela.”, registrou Miguel Falabella no livro “Autores – Histórias da Teledramaturgia”, quando perguntado sobre “Mico Preto”.
“Mico Preto” – 179 capítulos – Exibida entre 07/05 e 01/12/1990
Escrita por Euclydes Marinho, Leonor Basséres e Marcílio Moraes
Argumento de Dulce Bressane
Direção de Denis Carvalho e Denise Saraceni
Rafael Tupinambá


http://www.teledossie.com.br/mico-preto-a-anarquia-no-horario-das-19h/



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