"Vamp" é ruim
Há
alguns meses sendo reprisada pelo Canal Viva, a novela “Vamp” está
podendo mostrar o quão frágil é, apesar do relativo sucesso que fez
quando exibida pela Globo em 1991, o que faz dela muito mais uma novela cult do que uma boa produção.
Comecemos
analisando a trama principal, a dos vampiros e a cantora Natasha
(Cláudia Ohana). A novela já está quase na metade da exibição e a trama
referente aos vampiros não decola. Muito pelo contrário, o autor foge
dela como os vampiros da cruz. Quando ela dá brecha de que, finalmente,
será desenvolvida, é inventada alguma outra situação que a tira do foco.
Não tem ritmo. Um mesmo personagem terá, ao longo da trama, mais de
dois ou três caminhos distintos (e não concomitantes ou consequentes).
Abandonam-se os conflitos com uma facilidade esquizofrênica, o que causa
uma falha na estrutura da novela. Talvez, por isso, não se surpreenda
se você perceber que, sem uma explicação razoável, a história dos
vampiros pegará embalo (e abruptamente chegará ao clímax) nos últimos 20
capítulos da novela. Enquanto isso não acontece, dá-lhe desencontros
tediosos entre os personagens.
Já
a cantora Natasha, numa época em que os videoclipes estavam na moda,
era uma personagem interessante, mas muito mal-aproveitada. Estrela do
rock, conhecida internacionalmente, chegou em Armação dos Anjos como uma
mulher esquisita (exótica até, assim como o estereótipo dos ”mitos” da
música) e cheia de vontades. Ao longo dos capítulos, essa esquisitice
foi esquecida pelos outros personagens e suas vontades foram
substituídas por uma chata fragilidade. Ou seja, a personagem perdeu o
que tinha de bom e que poderia lhe render situações bastante
interessantes e inusitadas. A motivação do personagem – ser uma estrela
do rock – é atingida logo no primeiro capítulo e, depois disso, não é
criado nenhum outro objetivo de fato consistente, o que torna a sua
passagem pela trama bastante pálida. Sem contar aquela paixão repentina e
que não convenceu pelo Capitão Jonas (Reginaldo Faria). Num belo dia,
ela acordou, decidiu que essa paixão por Jonas era uma loucura e se
envolveu com o filho do Capitão, Lipe (Fábio Assunção). Se nem Freud
explicaria a psicologia da vampira-cantora, quem dirá Antonio Calmon.
Além
disso, outro lenga-lenga que perdura praticamente a novela inteira é
que toda mulher que chega na cidade se apaixona pelo Capitão, causando
ciúmes em Carmem Maura
(Joana Fomm). Primeiro, a cunhada dele, Mary (Patrícia Travassos);
depois, foi a vez de Natasha; em seguida, Soninha (Bia Seidl); e, por
último, a caçadora de vampiros, Alice Penn-Taylor (Vera Holtz). As
tramas se repetem o tempo inteiro e as histórias e conflitos do casal
ficam presos a esse único obstáculo. A família do Capitão Jonas e Carmem
Maura foi uma boa ideia do autor, mas seria mais adequada a um seriado,
por exemplo. Como novela (e a necessidade de histórias para capítulos
diários), revela uma crônica e constrangedora ausência de fôlego.
Enfim,
pode-se perceber nesta novela que falta progressão dramática, os
ganchos não são bem trabalhados, diálogos pobres e frágeis, situações
bobas e erros horríveis de cronologia na formação dos capítulos. A
história de “Vamp” é muito interessante, mas a novela poderia ter sido
maravilhosa se tivesse sido bem construída e as ideias melhor
aproveitadas.
Destaque
para os personagens de Carmem Maura (Joana Fomm), Padre Garotão (Nuno
Leal Maia), Mary Matoso (Patrícia Travassos), Matoso (Otávio Augusto),
Simão (Evandro Mesquita) e Vlad (Ney Latorraca). Todos bem construídos e
muito bem interpretados pelos respectivos atores, apesar de vagarem
muitos capítulos na imensa falta de assunto da trama.
Por
fim, “Vamp” nos faz questionar por onde andam bons atores que nunca
mais foram chamados para novelas, como é o caso de Inês Galvão, Carol
Machado, Daniela Camargo (entrevistada pelo blog recentemente), Rodrigo
Penna, Henrique Farias e Juliana Martins. Também não podemos deixar de
dizer que ainda bem que Amora Mautner virou diretora, pois como atriz
era péssima.
http://natvcritica.blogspot.com.br/2011/08/vamp-e-ruim.html
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